Existem inimigos contra os quais temos que lutar com todas nossas forças. Algumas vezes, porém, temos que lutar com todas as nossas forças… contra a tentação de atacar aqueles inimigos que se alimentam de nossos ataques.
* * *
Por ALEX CASTRO
Estamos no século III antes da Era Comum. Roma, então somente uma cidade-estado na península itálica, estava em guerra com outra cidade-estado, Cartago (perto da atual Túnis), pelo controle do Mediterrâneo.
Aníbal Barca, um dos grandes generais de todos os tempos, desembarcou um exército de mercenários e elefantes na Espanha, cruzou os Alpes enfrentando mil perigos e penetrou na Itália pelo norte, surpreendendo Roma e suas aliadas.
Durante dezoito longos anos, Aníbal perambulou pela península, vencendo todas as batalhas que travou.
Roma sofreu derrotas achapantes, que teriam derrubado qualquer cidade mais fraca, e que são estudadas até hoje em academias militares pelo mundo, como as de Lago Trasimeno e Canas.
Ainda assim, não caiu.
Por quê?
Aníbal, longe de casa e isolado, precisava de batalhas: eram elas que lhe davam forças, renovavam seus víveres, impediam seu exército de se autoconsumir em lutas internas.
O cônsul romano Fábio Máximo sugeriu uma nova tática: simplesmente lhe negar suas tão desejadas batalhas. Quando Aníbal se aproximasse, as cidades romanas se fechariam dentro de suas muralhas e esperariam que fosse embora. Ataques somente às suas linhas de abastecimento, nunca ao exército principal.
Para a maioria dos cidadãos romanos, entretanto, orgulhosos das virtudes militares de sua poderosa república, a ideia de simplesmente não fazer nada enquanto um implacável general inimigo passeava pela península era intolerável.
Roma também era ciosa de sua democracia: mesmo enfrentando uma ameaça existencial, continuava conduzindo eleições regulares. Nas seguintes, Fábio Máximo foi prontamente substituído por líderes mais marciais e mais viris, que deram batalha a Aníbal, foram derrotados e mortos.
Roma queria lutar, mas também estava exausta: toda uma geração de jovens foi exterminada nessas batalhas fúteis. Finalmente reconduzido à liderança com plenos poderes, Fábio Máximo implementou a assim chamada “estratégia fabiana” que consistia, basicamente, em não dar a Aníbal o que ele tanto queria.
O general cartaginense ainda ficou uns anos batendo pezinho pela península, exigindo a batalha decisiva que achava que Roma lhe devia e chamando os romanos de covardes, mas acabou empacotando seu exército e voltando para a África.
Então, com a casa segura, Roma cruzou o Mediterrâneo com todas as suas forças e impôs a Aníbal sua primeira, única e última derrota. Pouco anos depois, Cartago foi destruída e sumiu do mapa.
Aníbal era brilhante: Fábio Máximo foi mais.