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Por Igor Carvalho — Brasil de Fato
A favela do Moinho, na região central de São Paulo (SP), amanheceu novamente com um forte aparato policial nesta quarta-feira (14), um dia após a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) anunciar, via notificação extrajudicial, o fim da cessão do terreno onde está a comunidade para o governo Tarcisio de Freitas (Republicanos).
Às 8h da manhã, a tropa de choque da Polícia Militar fechou a entrada da favela e somente moradores puderam acessar a comunidade. A imprensa, inclusive, foi impedida de entrar no local – o que foi repudiado por entidades como a Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores, que tratou o caso como tentativa de “silenciar violações“.
Gabriela Barbosa, moradora do moinho, disse que algumas crianças foram impedidas de ir à escola. “Logo que eles chegaram, fecharam tudo e os meninos não puderam sair. Algumas horas depois que os moradores seguiram insistindo, eles começaram a liberar”, conta. Ela acrescentou que, para entrar na favela, a maioria dos moradores tiveram que ser revistados. “Se você entra com uma sacola, uma mochila, eles querem saber o que tem dentro. A opressão em si é uma violência”.
Dentro do Moinho, funcionários da CDHU seguem demolindo casas de moradores que já saíram da favela, após acordo com o governo de São Paulo, para que seguissem para unidades habitacionais indicadas pelo órgão.
Os moradores que seguem no bairro, porém, estão preocupados com as demolições, pois fragilizam as casas vizinhas, que ficam abaladas e sob risco de desabamento.
Por volta das 11h da manhã, a deputada estadual Ediane Maria (Psol) tentou entrar no Moinho com seu advogado, mas a Polícia Militar não autorizou a entrada de seu defensor. “Isso é inconstitucional, eu não me sinto segura de entrar sem meu advogado, isso é ilegal. Eu não estou conseguindo exercer a minha função de parlamentar aqui”, reforçou a parlamentar. Impedimentos semelhantes ocorreram com a deputada Paula Nunes (Psol) e a vereadora Luna Zarattini (PT).
Por volta do meio-dia, porém, o deputado estadual Capitão Telhada (PP), ligado ao campo conservador, entrou na área acompanhado dos assessores e sem qualquer necessidade de negociação.

Moradores do Moinho questionam governo federal com faixa; ‘Lula, tire a PM do Tarcísio do seu terreno’ (Foto: Reprodução)
Governo federal não compactua com SP
Na tarde da terça-feira (13), o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) informou que interromperá a cessão da área onde está a favela do Moinho para o governo de São Paulo, que diz pretender fazer um parque no terreno. “O governo federal não compactua com qualquer uso de força policial contra a população”, disse a pasta.
Questionado nesta quarta pelo Brasil de Fato se “considera que houve um desrespeito à notificação” por parte do governo de São Paulo, que seguiu com a ação, e se teria conhecimento formal de que as forças policiais retornaram à área, o órgão apenas divulgou uma nota que reitera o posicionamento do dia anterior:
Conforme nota divulgada ontem: https://www.gov.br/gestao/pt-br/assuntos/noticias/2025/maio/nota-sobre-a-situacao-da-favela-do-moinho, confirmamos a expedição, pelo SPU/MGI, na noite de ontem (13), da notificação extrajudical ao governo de São Paulo paralisando o processo de cessão da área.
Fonte: ICL Notícias