Vivenciando novas experiências
Olhares atentos aos filmes exibidos no cinema, muitos lanches e guloseimas. Assim foi o final de semana para as crianças do Espectro Autista e seus familiares, que participam dos atendimentos do Espaço de Atendimento Multidisciplinar ao Autista Amigo Ruy – EAMAAR, localizado na rua 18, Nº 380, bairro Alvorada 2, zona Oeste de Manaus. Durante a ação do Projeto Amazônia Cine Sol realizado neste sábado (10), às 18:30 horas.
Os participantes chegaram cedo para a ação oferecida pelo Projeto Amazônia Cine Sol, que levou o cinema à este público tão especial, e sentiram-se confortáveis ao participar de uma sessão de cinema em um ambiente e familiar a eles no EAMAAR.
Como cinemas são ambientes que envolvem um fluxo grande de pessoas e bastante estímulos sensoriais, o que pode dificultar ou até mesmo contribuir para uma experiência não tão agradável para quem tem Transtorno do Espectro Autista – TEA, de maneira inclusiva, o Projeto Amazônia Cine Sol precisou fazer algumas adaptações para o público de maneira geral. Isso porque, apesar de algumas crianças e adultos com o transtorno conseguirem vivenciar a experiência sem desconforto, muitas precisam de um espaço com ajuste de luminosidade e som, por exemplo.
O Cinema Itinerante Amazônia Cine Sol, foi contemplado por meio da Lei Paulo Gustavo para ações Audiovisual, e está sendo realizado com o patrocínio do Governo do Estado do Amazonas, Conselho Cultural do Amazonas, Secretaria de Estado, Cultura e Economia Criativa, Ministério da Cultura e Governo Federal, com o apoio do Instituto Comunidade em Foco, RVA Engenharia e DC Projetos. Ele possui um cuidado todo especial em relação a democratização de suas exibições com a inclusão de diversos tipos de público, que vai além de intérpretes de libras e áudio descrição nos filmes exibidos, como também na reserva de espaços especiais para idosos, obesos e cadeirantes.
Conforme a idealizadora do Projeto, Liliane Costa, essa exibição foi focada em ajudar famílias a encontrar ambientes inclusivos para levar suas crianças, já que ainda é comum que muitas delas sofram ao sair de casa e se sintam julgadas nas reações das pessoas a partir dos comportamentos de seus filhos autistas.
Durante a exibição, o som foi usado de maneira mais baixa e algumas luzes acessas, para que as crianças com distúrbio sensorial pudessem sentir-se mais confortáveis durante todo o filme.
Além disso, não foram passados trailers comerciais como de costume e todos puderam entrar e sair quando quiseram, dançar, gritar ou cantar à vontade.
Para a idealizadora do Projeto, esta exibição foi muito especial, pois além de ser uma forma de garantir que pessoas com TEA possam aproveitar, essa exibição também ajuda a expandir o diálogo sobre os espaços de lazer inclusivos e os direitos dos autistas, em diferentes âmbitos.
“Atualmente, em alguns lugares, já se faz valer o Projeto de Lei (PL 133/2019) que assegura o acesso de pessoas com autismo a salas de cinema, incluindo a realização obrigatória de sessão adaptada para pessoas com TEA, mas sabemos que na pratica, ainda não é bem assim que funciona. Entao, se eles não sentem-se desconfortáveis em ir a uma sala de cinema padrão, nós adaptamos e levamos o cinema até eles. E foi incrível a receptividade que eles tiveram a ação.” Disse a idealizadora.
MANAUS TEM ESPAÇO MULTIDISCIPLINAR PARA ATENDIMENTO AO AUTISTA
O Espaço de Atendimento Multidisciplinar ao Autista Amigo Ruy (EAMAAR) que atende crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e existe há 13 anos com mais de 8 mil crianças cadastradas. Segundo o diretor do EAMAAR Alexandre Gald, por mês, o espaço chega a ofertar até 6,2 mil atendimentos.
Alexandre afirma que quanto mais ambientes como esses existirem, mais oportunidades de independência será possível criar para que pessoas no espectro ocupem os espaços que lhes são garantidos enquanto parte da sociedade.
“ Estímulos e intervenções como essas são importantes para o desenvolvimento de habilidades sociais, auxiliando no aprendizado e desenvolvimento do cérebro, ligados à felicidade e alegria. Isso porque também aqui, a criança está em um ambiente mais cotidiano, e a família pode praticar os aprendizados e estimular ela em um lugar diferente da sala de terapia ou de ambientes onde a intervenção ocorre, promovendo a generalização. Estamos felizes com o resultado de tudo aconteceu aqui e aguardamos a volta do Projeto Amazônia Cine Sol para uma próxima sessão” Afirma Alexandre.
Durante a ação, foram servidas várias rodadas de lanches como: cachorro quente, sanduiches, salgados. Além de sucos, refrigerantes, pipocas e guloseimas. Os participantes também ganharam kits de pincéis, folhas para desenho, tinta guache, cola e massinha de modelar.
CONHECENDO MAIS SOBRE O PROJETO DE LEI (PL 133/2019)
Na proposta, os cinemas brasileiros são obrigados a oferecerem 2% das sessões em formato adaptado, identificando as salas aptas com o símbolo mundial da conscientização do espectro autista. Símbolo esse usado para mostrar a inclusão e direitos de pessoas com autismo.
O projeto prevê algumas alterações que, se forem feitas, já tornam o ambiente mais inclusivo para pessoas no espectro ou com transtorno do processamento sensorial, como:
• adequações luminosas;
• adequações do volume sonoro.
A proposta está em caráter conclusivo e ainda será analisada pelas Comissões de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência; e de Constituição e Justiça da Câmara.
Vale ressaltar que, mesmo sem lei oficializada, qualquer rede de cinema pode adaptar suas sessões para torná-las mais inclusivas e receber, de forma mais confortável e segura, pessoas neurodivergentes.
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