O cenário da região amazônica acometido pela seca extrema que bateu recordes históricos no ano passado pode estar próximo de se repetir. O nível de descida do rio Negro em Manaus, no mês de julho, foi de 1,61 metro. Se compararmos este mesmo período no ano passado, o nível do rio desceu apenas 1,22 metro. Ou seja, uma diferença de quase 25% em apenas um ano.
De acordo a medição do site oficial do Porto de Manaus, na última quarta-feira (31), o rio Negrou chegou a cota de 25,18 metros; e neste mesmo dia no passado a medição foi de 26,80 metros – com isso, é possível podemos ver uma diferença de 1,62 metros. Essa medida equivale a mesma quantidade que o rio desceu nos últimos trinta dias deste ano.
Importante destacar que a cota registrada no dia 31 de julho deste ano (25,18 m) só veio a ser registrada aproximadamente no dia 20 de agosto, quando o rio Negro media 25,16 metros – período em que a vazante já estava com um nível de descida acentuado com uma média de 10 centímetros a menos por dia.
Jussara Cury, pesquisadora do Serviço Geológico do Brasil, avalia que o nível do rio Negro está um pouco abaixo do normal. (Foto: Moisés Machado/Ministério da Defesa)
Outro ponto que vale ressaltar é que, de acordo com o site do Porto de Manaus, que registra o nível do rio Negro diariamente desde 2000, para o mês de julho o mais baixo que o rio já chegou foi em 2005, quando atingiu a cota de 25,61 metros. Naquele mês, o rio Negro desceu 1,87 metros.
Abaixo do normal
Questionada pela reportagem de A CRÍTICA se o ritmo de vazante do rio Negro no mês de julho ser o menor em quase 20 anos já indica uma seca extrema em 2024, a pesquisadora em Geociências do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Jussara Cury afirma que o nível está abaixo do normal.
Cenários extremos
Nos últimos dez anos, o Amazonas bateu dois recordes históricos de cheia e vazante. Ao analisarmos a série história de registros do nível dos rios, pode-se interpretar que cenários extremos impulsionadas por estes fenômenos estão acontecendo com mais frequência. Segundo Cury, o principal fator que influencia é o efeito climático, como o El Niño.
Nos últimos dez anos, o Amazonas bateu dois recordes históricos de vazante (Foto: Jeiza Russo)
“Os rios da bacia, tais como Solimões, Purus e Madeira estão com níveis abaixo da normalidade, em algumas estações monitoradas, inclusive no período da enchente de 2024, isso ocorre principalmente, pois anos de El niño tendem a afetar o regime de chuvas em anos conjugados como é o caso de 2023-2024, contudo, o fenômeno climático que atua no Pacífico enfraqueceu e o clima está em transição na região e contando com a fase de estiagem”, explicou a especialista Jussara Cury.
Previsões
Apesar dos níveis estarem baixos na maioria dos postos de monitoramento dos rios da bacia do Amazonas, Jussara Cury ressalta que as descidas têm acompanhado as medianas para cada posto de monitoramento.
Entretanto, apresenta uma tendência de “vazante significativa”, mas a parte norte da bacia ainda segue sem ser afetada como em 2023. Os prognósticos climáticos podem ser conferidos no ultimo boletim do clima que saiu no dia 27 de julho no site (https://www3.sipam.gov.br/boletim.html). “Os meses de agosto, setembro e outubro apontam que a parte da bacia com menos precipitação seria a da região centro sul, que contempla os rios Purus, Madeira e Juruá, já o Solimões está com tendência a recessão mais acentuada nos próximos dias devido às descidas acima de 20 cm no posto de Tabatinga nesta semana”, pontuou a pesquisadora.