A importância das hortas comunitárias para a produção e o consumo responsáveis

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Meio ambiente, sustentabilidade e suas variáveis são assuntos importantes e presentes nos pilares da Fundação ABH, tanto no nosso processo interno quanto nas ações que apoiamos em prol do desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo.

republicado de https://www.fundacaoabh.org.br/

O tema está dentro da categoria de Vida Digna e Bem-Estar da nossa mandala do PerifaSul 2050, levantadas pelos atores locais como temáticas que merecem ser trabalhadas com prioridade até 2050 nas quebradas da zona sul paulistana.

Dentre os assuntos abordados, está a importância de uma alimentação saudável, como produtos derivados de consumo e produção responsáveis e sustentáveis. Neste contexto, a agricultura orgânica ganha cada vez mais espaço através das hortas comunitárias.

De acordo com a Secretaria Municipal do Planejamento de São Paulo (SEMPLA), a capital paulista tem 222 quilômetros quadrados de área rural, cerca de 14,75% do território, sendo que grande parte dela está localizada na perifasul de São Paulo, nos distritos de Parelheiros, Grajaú e Marsilac, que são responsáveis por plantar e produzir mais de 70% das hortaliças consumidas no município de São Paulo. No entanto, as hortas comunitárias também estão presentes na zona urbana.

No artigo de hoje, vamos entender o que é uma horta comunitária, o seu impacto na vida de uma comunidade, além de conhecer algumas hortas mantidas nas quebradas da capital paulista.

O que é uma horta comunitária?

Para entendermos o que é uma horta comunitária, primeiro precisamos compreender o conceito de hortas urbanas, que nada mais são do que áreas de plantio de frutas e hortaliças que são mantidas nos grandes centros urbanos do país.

A partir daí, uma horta urbana pode ser doméstica, quando é plantada dentro de casas e apartamentos, ou comunitária, quando é cultivada em espaços coletivos de acesso público aos moradores da região onde é mantida que também contribuem no processo de manutenção, seja plantando, adubando ou criando recursos para a produção de frutas e vegetais.

Benefícios e de hortas urbanas comunitárias

As hortas urbanas estão entre as principais atividades englobadas pela agricultura urbana, que busca otimizar a distribuição de alimentos nas cidades, bem como contribuir com o meio ambiente e a saúde da população diminuindo o uso e o consumo de agrotóxicos a partir da produção de vegetais orgânicos.

De acordo com dados do Worldwatch Institute (WWI), de 15% a 20% dos alimentos consumidos em todo o planeta terra são produzidos em hortas urbanas, como algumas das que vamos conhecer neste artigo.

Além do consumo e produção responsáveis, as hortas urbanas trazem muitos outros benefícios para as comunidades que as desenvolvem:

  • Autossustentabilidade: as hortas urbanas permitem que a comunidade tenha uma via de autoconsumo de alimentos orgânicos duradoura;
  • Geração de renda: Além do autoconsumo, a prática também se torna uma fonte de renda para iniciativas que vendem as hortaliças, frutas e legumes que produz para mercados, sacolões e pessoas físicas, que se interessem em ajudar na manutenção do projeto e melhorar a alimentação;
  • Conscientização ambiental: o cultivo comunitário incentiva o autoconhecimento ambiental geral e do contexto da comunidade, onde o plantio será realizado;
  • Produção e consumo sustentáveis: O plantio em comunidade estimula a população local a adotar processos sustentáveis, como o aproveitamento de resíduos orgânicos para produzir composto e adubo natural;
  • Benefícios ambientais: A prática é benéfica também para o ecossistema, por exemplo, o aumento da presença de plantas polinizadoras em uma determinada comunidade pode melhorar as condições para as abelhas, que produzem mel através do pólen que coleta;
  • Trabalho coletivo: A horta comunitária gera um senso de comunidade no local em que ela é desenvolvida, de modo que todos se unem para colaborar de alguma forma no processo;
  • Saúde e bem-estar: Além de melhor a saúde com consumo de alimentos orgânicos, é comprovado que contato com a natureza, cultivo de plantas e a luz do sol, sem excesso e com proteção, reduz os níveis de estresse e ansiedade, fornece vitaminas ao organismo e consequentemente melhoram a qualidade de vida.

Hortas comunitárias na periferia sul de São Paulo

De acordo com os dados captados pela plataforma Sampa+rural, que mapeia iniciativas de agricultura, alimentação saudável e turismo da cidade de São Paulo, existem cerca de 122 hortas urbanas na capital paulista, dessas 87 são comunitárias e a maioria, um total de 37 até o momento, estão localizadas na zona sul paulista, considerando tanto a zona rural quanto a urbana. Além disso, 228 hortas comunitárias são mantidas em equipamentos públicos do município, como escolas e unidades básicas de saúde.

Horta Coletivo Dedo Verde

O coletivo Dedo Verde mantém, na sede da Casa de Cultura do Jardim São Luís, na periferia sul de São Paulo, a primeira horta urbana com Certificado de Transição Agroecológica da AAO (Associação de Agricultura Orgânica), uma ferramenta de reconhecimento às agricultoras e aos agricultores, bem como um atestado de segurança para consumidores e estabelecimentos comerciais que desejam apoiar a classe agrícola e adquirir produtos mais sustentáveis.

Deste modo, a iniciativa produz e comercializa uma grande variedade de hortaliças convencionais e não convencionais sem o uso de agrotóxicos. Além disso, o coletivo Dedo Verde realiza ações de conscientização ambiental, como reciclagem de lixo eletrônico e óleo de fritura.

Horta Cooperapas

A Cooperapas (Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo) é mais uma das iniciativas que atuam no fortalecimento da agricultura urbana orgânica no território.

Além de cultivar frutas, verduras e legumes orgânicos sem veneno, a Cooperapas promove educação ambiental, preservação de nascentes e produção de água limpa, que abastece as duas represas do entorno: Billings e Guarapiranga, e preservação das reservas naturais da região, que tem os principais remanescentes de mata atlântica preservada da cidade, evitando assim o crescimento da especulação imobiliária no local.

Horta Comunitária Dona Fátima

Localizada no bairro Nova América, região de Parelheiros, no extremo sul da cidade de São Paulo, a Horta Comunitária Dona Fátima cultiva uma grande variedade de hortaliças, como taioba e couve, que são a base de diversas receitas feitas pela dona de casa Iara Oliveira, que frequenta o local semanalmente.

“Vou duas vezes por semana para ajudar a cuidar e participar das coisas que têm na comunidade […] Faço muita vitamina, refogado com a couve, torta de legumes, saladas, uma delícia de suco de couve com limão. Quase não como carne.”, disse Iara em entrevista à Cleberson Santos, da Agência Mural.

Horta UBS Jd. Aracati

Encabeçada pelo CEJAM Muda (Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”) com o apoio do Programa Ambientes Verdes e Saudáveis (PAVS) da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, a UBS Jardim Aracati inaugurou uma horta comunitária em abril de 2023, criada em conjunto com a população local, em um terreno emprestado por um dos moradores da região, Norberto Vicente da Silva.

O projeto tem como objetivo beneficiar a comunidade com a produção responsável e sustentável de hortaliças, temperos e legumes que vão complementar a alimentação de todos, e deve ser implementado em breve em outras unidades básicas de saúde da periferia sul de São Paulo, como as UBSs Jardim Herculano, Parque do Lago e Cidade Ipava e CAPS (Centro de Apoio Psicossocial) Álcool e Drogas III M’boi Mirim, Infantojuvenil II M’boi Mirim, CER IV M’boi Mirim e APD CER M’Boi Mirim.

Horta Quebrada Orgânica

Joyce e Robert cultivam uma horta urbana orgânica às margens da represa Guarapiranga, no bairro Praia Azul, através do projeto Quebrada Orgânica.

A iniciativa  realiza delivery de alimentos orgânicos, promove oficinas de agricultura urbana, gastronomia e meio ambiente, produz composteiras e instala nas casas de moradores da comunidade e mantém uma agrofloresta no interior de São Paulo, onde também cultivam hortaliças e fortalecem a agricultura urbana sustentável.

Horta do Tatu Bolinha

A Fábrica de Cultura do Capão Redondo mantém a Horta do Tatu Bolinha, onde cultiva hortaliças, promove oficinas sobre agricultura urbana, como aconteceu recentemente para a criação de uma composteira – um sistema de tratamento de lixo orgânico, que resulta em um composto que retorna à natureza em forma de adubo.

A área também é palco de movimentos culturais em que moradores da região cuidam da horta embalados por música, poesia e muitos, já que instrumentos e microfones ficam abertos ao público que se interessa em mostrar o seu talento.

Horta Ângela de Cara Limpa

A plataforma de implantação e fortalecimento da gestão dos empreendimentos populares solidários no Jd. Ângela, Ângela de Cara Limpa, desenvolvido pela Sociedade Santos Mártires, incentiva e fortalece diversos programas voltados a ações de sustentabilidade na região, dentre eles uma horta comunitária, onde promove a cidadania através do empreendedorismo ambiental.

O terreno de mais de 5 mil metros quadrados possui mais de 30 canteiros destinados ao plantio de hortaliças, legumes e frutas, que se transformam em cestas de produtos agroecológicos, que são comercializados na periferia sul de São Paulo.

Horta da Agência Popular Solano Trindade 

Em fevereiro de 2020, a iniciativa Pé de Feijão implantou uma horta urbana agroecológica na Agência Popular Solano Trindade, no distrito do Campo Limpo, que atualmente abastece a cozinha da Tia Nice, no restaurante Organicamente Rango, que serve pratos populares feitos com alimentos orgânicos, e todo mundo que passar por lá.

Horta Nossa Fazenda

O espaço Nossa Fazenda, em Parelheiros, extremo sul da capital paulista, oferece turismo rural com características de base comunitária. No local, o público tem acesso a animais variados,  mas o foco principal é a produção de caponata de coração de banana, pães, bolos e patês feitos com ervas hortaliças orgânicas cultivadas pelas proprietárias Vania Maria Ferreira dos Santos e Valéria Maria Macoratti.

A área possui uma horta em mandala, ou seja, que se expande em círculos concêntricos com base no sistema solar; cozinha saudável, trabalhos em permacultura, saneamento básico alternativo, como fosse biodigestora, filtro biológico de águas cinzas e banheiro seco, além de sistema de captação de água da chuva e compostagem.

A Fundação ABH acredita e trabalha em prol da identificação, valorização e conexão entre os recursos de um território e a proatividade de seus moradores, que com as próprias mãos semeiam a terra que vai gerar o alimento que será compartilhado com a comunidade.

As hortas comunitárias são um grande exemplo da união entre um recurso local, seus moradores e a necessidade do todo, que além de servir a mesa do povo, preserva as riquezas naturais da região, incentiva o empreendedorismo ambiental e a produção de alimento dentro dos padrões de produção e de consumo sustentáveis.

Gostou do assunto deste artigo? Fiquem ligados nos próximos posts, pois traremos mais pautas que contribuam com o desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo.

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