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A economia para crianças de John Maynard Keynes

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Nos dias atuais, devido à  subversão feita por Donald Trump em todos os mercados mundiais, o assunto dominante é a economia e os efeitos das políticas tarifárias impostas por ele. São medidas tresloucadas, aplicadas  à toda a humanidade, a 180 países, desestruturando as economias nacionais e prejudicando particularmente a população pobre. Só gente sem coração e sem qualquer senso de humanidade pode tomar medidas desta natureza.

É neste contexto que me refiro ao pai da macroeconomia John Maynard Keynes (1883-1946), considerado um dos maiores economistas dos últimos tempos. A função do Estado, para ele, é o de ser promotor do desenvolvimento, o que ajudou a tirar a Europa da devastação da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e deu rumo à economia mundial. Não via a economia como algo absoluto em si, mas no conjunto das atividades humanas. Mostrou-se muitas vezes um radical humanista e, como tal, com forte carga utópica.

Refiro-me a um texto muito pouco citado. Numa palestra em 1926 dizia: “As divindades que presidem a vida econômica não podem ser outra coisa que gênios do mal; dum mal necessário que ao menos daqui a um século (até 2028) nos obrigará a fazer crer a cada um e a nós mesmos que a lealdade é uma infâmia e que a infâmia é a lealdade, pois a infâmia nos é útil e a lealdade, não”, Em outras palavras, – completava – “a humanidade chegará ao consenso de considerar a avareza, a usura e a prudência como indispensáveis para nos tirar do túnel da necessidade econômica a nos levar à luz do dia”.

“Só então se alcançará o bem estar geral e será o momento em que nossas crianças – e esse é o sentido  do meu ensaio Perspectivas econômicas para nossas crianças* –  finalmente compreenderão que o bem é sempre melhor que o útil“.

“Então nem precisam mais se lembrar de certos princípios, os mais seguros e os menos ambíguos da religião e da virtude tradicional: que a avareza é um  vício, que é maldade extorquir os benefícios da usura, que o amor ao dinheiro é execrável”.

“Os que caminham seguramente pelo caminho da virtude e da sabedoria serão aqueles que se preocupam menos com o amanhã. E uma vez mais chegaremos a valorizar mais os fins que os meios e a preferir o bem ao útil.  Honraremos aqueles que nos ensinaram a acolher o momento presente de maneira virtuosa e prazerosa, pessoas excepcionais que sabem saborear as coisas imediatas, como os lírios do campo que não tecem nem fiam”.

Mesmo que a proposta do humanista e eminente economista não se tenha realizado ainda (irá se realizar?), pois vivemos sob a ditadura do vil metal e da economia especulativa que nada produz a não ser ainda mais dinheiro, deixando grande parte da humanidade na pobreza e na miséria, perceberá, e isso vai continuar valendo, que a essência da vida não está no acumular ilimitadamente e no consumir desmedidamente. O sentido da vida consiste em viver a vida, gozá-la, reproduzi-la, celebrá-la, compartilhá-la com outros. Isso não é dado pela economia vigente. Numa palavra, é o inútil que conta e não o que é economicamente útil.

Seguramente o sábio humanista e economista Keynes nos revelou a verdadeira natureza da economia, compreensível mais pelas crianças do que pelos adultos.

Hoje perdemos esta perspectiva e somos todos reféns da cultura do capital que nos obriga a gastar nossas vidas e nosso tempo em trabalhar, em produzir e em consumir no contexto de uma sociedade perversa, cujo ideal é a acumulação sem limite e o consumismo, sociedade que transformou tudo em mercadoria, até as coisas mais sagradas ou vitais como órgãos humanos.

A seguir  por este caminho, por mais tarifas que o ensandecido Donald Trump castigue a inteira humanidade, iremos, provavelmente, ao encontro de uma grande tragédia, eventualmente de nosso próprio fim. Merecidamente, pois não cumprimos o fim para o qual temos sido criados: viver a vida e agradecê-la.

*John Maynnard Keynes, Perspectives économiques pour nos petits-enfants, em  Essais sur la monnaie et l’économie:les cris de Cassandre, Paris, Payot 1971,p.140;L.Boff, Ecologia, mundialização e espiritualidade, Ática, SP 1996.



Fonte: ICL Notícias

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